quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Saberes Docentes e Formação Profissional

Acredito que a grande contribuição (ou pelo menos a primeira) do texto de Tardif é a clara divisão que faz, acerca dos perigos que rondam, (d)o "mentalismo" e do "sociologismo". Representantes das respectivas 'correntes' explicativas, dentro do processo da educação, costumam puxar para si a responsabilidade, egocêntrica até, de dar de conta de um processo tão complexo como este. Tardif aborda, em específico neste processo, a formação do professor e a formação de seus saberes que não pode, pela sua própria complexidade, ser subjugado por somente uma teoria, ou uma corrente, em específico. "(...)o saber não é uma substância ou um conteúdo fechado em si mesmo; ele se manifesta através de relações complexas entre o professor e seus alunos. Por conseguinte, é preciso inscrever no próprio cerne do saber dos professores a relação com o outro, e, principalmente, com esse outro coletivo representado por uma turma de alunos." Tardif.
Os saberes são vários: “(...) apresentam-se como doutrinas ou concepções provenientes de reflexões sobre a prática educativa no sentido amplo do termo, reflexões reacionais e normativas que conduzem a sistemas mais ou menos coerentes de representação e de orientação da atividade educativa.”
Saberes da formação profissional: a formação profissional é contínua. No texto "Profissão Docente", a autora Sonia Penin fala em 'profissionalidade', a 'profissionalidade' (profissão e personalidade) é uma somatória de fatores que constituem um (ou o) ser docente. A escolha da profissão já é fruto de diversas escolhas pessoais, fruto de uma educação familiar e primariamente formal que possibilita uma primeira visão de mundo ao sujeito, dá os subsídios de ação que envolvem as várias escolhas que este deve realizar. Escolher a carreira docente, em um contexto de Brasil século XXI, se apresenta como uma escolha ainda mais pautada em uma coragem, em uma busca, que transpassa, ou deixa de transpassar, outras escolhas profissionais. Bem, mas então sou eu falando. A Construção de um saber da formação profissional é constante, passa, posteriormente a escolha, a um processo formal, no caso do Docente, em uma Universidade ou no Magistério, mas que não se encerra com um diploma, mas numa somatória com outros saberes.
Saberes Disciplinares, aqueles saberes que circundam a disciplina específica do professor. Apesar de muito ser falado atualmente em Interdisciplinaridade, ou Multidisciplinaridade, vemos ainda que cada formação disciplinar possui uma matriz própria, certos atalhos e desafios que a tornam mais específica. Metodologias que formam o ser docente. Formam a Profissão.
Saberes Curriculares se estendem aos saberes das disciplinas, ou seja, os saberes 'formais' do curso do qual o docente provém e o qual ele dará continuidade com seus alunos.
Saberes Experienciais são os saberes formados e 'formantes' do ser docente. A partir da experiência em sala de aula, com os colegas de profissão em conselhos e reuniões, bem como o contato com os gestores da escola e dos pais dos alunos (A Comunidade Escolar em si) formam aos poucos o saber experiencial do professor, formam suas estratégias perante as situações que o cercam e resolvem, a partir destes, ou não, os problemas que se apresentam das mais diversas formas.
O saber docente é um saber dúbio, mas não paradoxal. Dúbio, pois deve ser expressado, pensado e, por fim, existente no âmbito do conhecimento de si e do conhecimento dos outros sujeitos que são a parte integrante e mais latente de todo o processo: os alunos. O professor deve se enxergar e enxergar os outros, não se enxergar nos outros, apesar de que esta parte é inevitável. (A nossa identidade é muito mais aquilo que não somos, do que somos, é, por fim, a constituição da diferença, mas o Saber Docente não é paradoxal nesse sentido). Existem duas guiais do conhecimento que não se contradizem, o conhecimento é multidisciplinar e alcança tantos níveis que não pode ser reduzido em uma perspectiva linear. A profissionalidade e os saberes se completam nesse ponto.






Obs:
A imagem da execução de Sócrates foi escolhida por mim arbitrariamente como a exemplificação de uma consequência nefasta dos saberes. Foucault diria que as Estratégias de Saber são as Estratégias de Poder e, portanto, a imagem de Sócrates bebendo cicuta sintetiza uma incongruência nesse caminho. 



Um comentário:

  1. Olá Bruno,

    adorei a tua reflexão e achei muito pertinente trazer Foucault para a construção do teu argumento sobre as estratégias de saber e poder. Parabéns!
    Um forte abraço,
    Profa. Nádie

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