sexta-feira, 9 de novembro de 2012

ENEM


Fiz o ENEM no final de semana e, traçando um paralelo, poderia compará-lo as eleições americanas. Poderia também compará-lo as eleições como um todo, municipais brasileiras, e, deixe-me ver o que mais aconteceu nesses últimos tempos: … Acho que isso, por enquanto, é irrelevante. O ENEM, à meu ver, não passa de uma estratégia e, em certos aspectos, uma estratégia bem articulada. Toda aquela história de unificação de uma prova para todos os estudantes, ou possíveis estudantes, a facilitação da entrada em uma Universidade, a concessão de bolsas do Governo Federal... servem como recursos de uma estratégia que, a longo prazo, terá um papel alienatório. A alienação é um estado de inércia, o olhar fixo que nos fala Erasmo, e consequentemente de permanência. O ENEM, apesar de suas implicações pedagógicas do 'fazer pensar', aliena todas as escolas, principalmente as públicas, ao seu bel-prazer de 180 questões. As escolas particulares já estão formatadas nessa direção há muito tempo.
Quando digo alienação vejo um norte bem definido: As propostas pedagógicas autônomas se dissolvendo em favor da colocação no ENEM. Os estudantes, que já não muito preocupados com os conteúdos, exigem de alguns professores que as suas aulas se configurem às necessidades 'eneísticas', interrompem um processo e fundam um novo, porém não tão 'novo assim'. Essas experiências de totalidade não costumam dar muito certo. Costumam, a caráter longínquo, disfarçar certas atrocidades e obscurecer possibilidades. A Escola de Frankfurt, instituto alemão de pesquisa social, forjou o conceito de 'Industria Cultural' que, no meu ponto de vista, se encaixa perfeitamente a este experiência de prova única. Vejam bem, não tenho nada contra a prova do ENEM, mas sim contra o seu caráter totalizante de ingresso ao vestibular. Aos poucos a prova esta forjando um modelo único, padronizado, que assim como a 'Indústria Cultural' assenta segmentos sobre o pseudo-individualismo. O ENEM como prova, ou seja, o ENEM em si, possui um caráter próprio e até necessário em sentido de avaliação, mas a sua utilização como o modelo geral, que expõe as escolas a uma mudança que, às vezes, as destituem ainda mais de sua autonomia.
Estudei em uma escola particular no Ensino Médio. Nesta escola a média do ENEM servia como propaganda mercantil: "tragam seus filhos para o nosso colégio, temos a melhor média do ENEM de toda a região". Porém, os laços que formei nessa escola foram justamente os mesmos que formei com todos os Brunos da minha sala, no dia da prova, ou seja, nenhum. Não posso culpar totalmente a escola, é claro. A falta de socialização tem muitos fatores a considerar, sendo que a vontade desta também pode ser abalada, mas, como estudo comparativo, identifiquei nas escolas públicas o registro de laços muito maior do que no ensino privado. O ponto que quero chegar com tudo isso é: as escolas estão mudando sua razão de ser em nome da reprodução do modelo do ENEM, ou melhor, da nota do ENEM.
O paralelo que queria traçar no início do texto era mais ou menos esse: as eleições, na democracia representativa, são a somatória de fatores, não a totalidade. As escolhas muitas vezes se baseiam na não participação, muito mais do que na participação. Não quero, vejam bem, com isso, defender outro modelo, ou gerar uma 'alternativa' mais participativa, mas, simplesmente, ilustrar um processo. O processo que se baseia em uma maioria não-participativa é o mesmo que produz um modelo de prova, de avaliação, que assume um caráter total, um parâmetro que, obviamente, não pode sê-lo. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário